Título: O Medo na Cidade do Rio de Janeiro
Editora:Revan
Autor: Vera Malaguti Batista
ISBN: 8571062935
Disponibilidade: Pronta Entrega
Nº de Páginas: 272
Encadernação: Brochura
Ano: 2003
- Dois Tempos de uma História
Resenha:
De forma original e detalhada, Vera Malaguti enfoca em O medo na cidade do Rio de Janeiro a difusão do medo do caos e da desordem para neutralizar e disciplinar as massas empobrecidas, a partir da hegemonia conservadora. Para entender as bases do medo contemporâneo, a autora analisa os discursos sobre a segurança na conjuntura de pânico no Rio de Janeiro na década de 90 do século XX, paralelo ao estudo dos medos cariocas do século XIX, ao retratar a repercussão no Rio de Janeiro da revolta muçulmana escrava conhecida como a revolta dos Malês.
Com isso Vera Malaguti ressalta as rupturas e permanências em relação aos medos de hoje. Seu estudo contribui não só para a historiografia do controle social no Rio de Janeiro, mas para três outras áreas diferentes da investigação social. Uma primeira área seria a da história cultural do medo e seu consecutivo impacto na vida social e política da sociedade. A autora aproveita para reforçar a idéia de que a Igreja, no começo da era moderna, de forma sábia manipulou e orientou os medos populares para consolidar seus interesses. Ressalta ainda que o medo coletivo foi de extrema importância na construção da sociedade urbana no Brasil.
Esse medo invadiu e danificou vários segmentos da vida carioca. E até hoje esses medos são alimentados pelas elites urbanas para assegurarem seus objetivos, assim como o fazia a Igreja. Em um segundo momento, tal estudo enriquece uma outra área da investigação social: a da sociologia histórica da escravidão e seus consecutivos efeitos colaterais (incluindo a formação das hierarquias sociais). Vera afirma que a escravidão exerceu uma enorme influência sobre a divisão e organização da sociedade contemporânea. Nisso incluem-se discursos, práticas de instituições, como a medicina e a saúde pública, política, imprensa, e o não menos importante controle da criminalidade.
Analogamente sugere que o policiamento seletivo, influenciado e guiado por classe e cor, onde o desrespeito a direitos fundamentais são violentados sem o menor pudor, nasceu ainda no conturbado período imperial, quando o racismo foi fundido ao senso comum da sociedade. O que nos leva a uma terceira área da investigação social: a antropologia da contenção material e simbólica das classes baixas na cidade.
Encontramos então uma intensa mistura de penalização com racialização, ocasionando a "demonização da ralé", como cita Loïc Wacquant (responsável pelo prefácio do livro). O que acaba por tornar impossível a separação da idéia de criminalidade da multidão urbana. O medo na cidade do Rio de Janeiro não se destina apenas a pesquisadores. Ele possibilita uma maior elucidação a cidadãos comuns que tiverem interesse em desvendar as razões pelas quais o "medo do outro" e a violência criminal tornaram-se obsessões da sociedade contemporânea, e o por quê das políticas de segurança públicas serem fadadas ao fracasso.
Vera Malaguti Batista é mestre em História Social (UFF), Doutora em Saúde coletiva (UERJ), Professora de criminologia da Universidade Cândido Mendes, e Secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia.